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 por Fernando Barrichelo

O problema dos recursos públicos e os aproveitadores

Charles Wheelan, no livro Naked economics, apresenta um bom exemplo sobre free riders na história dos rinocerontes. Os rinocerontes pretos são uma das espécies mais ameaçadas de extinção do planeta. Atualmente, menos de 2.500 vivem no sul da África – em 1970, existiam 65 mil. Esse é um desastre ecológico, mas também é uma situação em que conceitos básicos de economia explicam por que certas espécies estão em perigo e o que podemos fazer a respeito.

Por que as pessoas matam os rinocerontes pretos? Pela mesma razão pela qual vendem drogas ou trapaceiam nos impostos – elas podem ganhar muito dinheiro e correm pouco risco de ser flagradas. Nos países asiáticos, o chifre do rinoceronte preto é considerado um afrodisíaco poderoso e um remédio para abaixar a febre. Como resultado, um único chifre de rinoceronte atinge US$ 30 mil no mercado negro, um valor enorme para países em que a renda per capita é de aproximadamente US$ 1 mil por ano. Em outras palavras, o rinoceronte preto é bem mais valioso morto do que vivo para a população pobre do sul da África.

Infelizmente, esse é um tipo de mercado que não se regula por si próprio. Diferente de automóveis ou computadores, as empresas não produzem novos rinocerontes pretos à medida que a fonte de suprimento diminui. Na verdade, ocorre o oposto: à medida que o rinoceronte preto fica mais raro, o preço do chifre no mercado cresce, incentivo ainda maior para os bandidos caçarem os rinocerontes restantes, o que ameaça fortemente sua extinção.

Esse círculo vicioso é composto por outro aspecto comum em muitos desafios ambientais. A maioria dos rinocerontes pretos é de propriedade pública, não fica em propriedades privadas. Isso cria mais problemas na conservação da espécie. Além disso, as populações dos vilarejos próximos à área onde ficam os rinocerontes não possuem benefício algum em tê-los por perto; ao contrário, animais enormes, como rinocerontes e elefantes, podem destruir plantações.

Agora, imagine se todos os rinocerontes estivessem na mão de um fazendeiro avarento sem nenhum escrúpulo em matá-los para transformá-los em pó afrodisíaco. Você acha que esse fazendeiro inescrupuloso teria deixado o seu rebanho de rinocerontes cair de 65 mil para 2.500? Nunca. Ele teria criado e protegido esses animais de forma a possuir o maior estoque possível para suprir o mercado. Isso não tem nada a ver com altruísmo, mas com maximizar o valor dos recursos escassos.

Operadores de safári, que ganham dinheiro levando turistas ricos para observar a vida selvagem, encontram problema similar de free rider. Se uma das empresas investe bastante na conservação, a outra empresa, que não fez investimentos, se beneficia dos rinocerontes que foram salvos. Então, a operadora que gastou dinheiro na conservação sofre desvantagem no mercado, pois ela precisa ser mais cara (ou ganhar menos) para recuperar o investimento na conservação. O único que leva vantagem é o caçador de rinocerontes, que vende os chifres.

Isso é bastante deprimente. Mas a Teoria dos Jogos pode oferecer ao menos alguns insights sobre como os rinocerontes pretos e outras espécies podem ser salvas. Uma estratégia de conservação eficiente poderia ser alinhar corretamente os incentivos das pessoas que moram perto do habitat natural dos rinocerontes. Explicando: fornecer às pessoas locais alguma razão para que elas queiram os animais vivos. Essa é a premissa na indústria nascente do ecoturismo. Se turistas ficarem dispostos a pagar bastante dinheiro para estacionar perto e fotografar os rinocerontes e, mais importante, se a população local de alguma forma se beneficiar desse turismo, ela terá grande incentivo para manter os animais vivos. Isso funcionou em locais como a Costa Rica, um país que protegeu suas florestas ao estabelecer mais de 25% do país como parque nacional. O turismo gera US$ 1 bilhão em receita anual, representando 11% do PIB.


NOTAS:
[1] WHEELAN, C. Naked economics. WW Norton Company, 2002..
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