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 por Fernando Barrichelo

Já que tem que esperar, observe

Esperar te incomoda? Leia este texto retirado do livro Como domar um elefante (53 maneiras de acalmar a mente e aproveitar a vida), de Jan Chozen Bays.


 

Tente o seguinte: encare qualquer situação de espera – a fila do banco, o atraso de alguém, o ícone “por favor, aguarde” na tela do computador – como uma oportunidade de praticar atenção plena ou meditação.

Existem várias boas práticas de atenção plena para enfrentar uma espera. Uma delas é a atenção plena na respiração, começando com algumas respirações profundas para ajudar a dissipar a tensão corporal de ter que esperar, ou para o caso de alguém que você está esperando se atrasar. Localize em que parte do corpo você está mais consciente da respiração – narinas, tórax ou barriga – e dirija a atenção para as sensações dessa área, observando como mudam o tempo todo.

Outra prática útil para um período de espera e escutar os sons, abrindo e expandindo a audição até abarcar todo o ambiente onde você estiver. Ainda, a cada expiração, observe se você está tenso ou retesando alguma parte do corpo – em torno dos olhos ou da boca, ombros ou barriga – e procure atenuá-la.

Quando notar que está ficando chateado por “ter que ficar esperando”, considere: “Mas isso é ótimo! Sem querer, arrumei um tempinho para praticar atenção plena”.

LEMBRETE: Coloque um papelzinho ou um pedaço de fita adesiva com a letra E (de “prática da espera”) nos dispositivos de tempo que você costuma verificar ao longo do dia, como relógio de pulso, relógio do carro, celular. Coloque uma letra E também na tela do computador ou no mouse.

Descobri esse exercício quando comecei a praticar meditação, eu trabalhava 72 horas por semana como estagiária num hospital municipal muito movimentado e quase não tinha tempo nem para ir ao banheiro. Dois professores de zen foram me visitar no hospital. Corri para a sal a de espera, murmurando desculpas por tê-los feito esperar. “Não tem problema”, disse um deles. “Isso nos deu um tempinho extra para sentar.” (“Sentar” e a gíria zen para meditação sentada.) Ah, perfeito.

Isso é útil para a pessoa super ocupada que pergunta: “Como vou achar tempo para praticar atenção plena?” Não é preciso dedicar um monte de tempo para praticar atenção plena (mas, claro, mal não faz). As chances de estar presente surgem ao longo do dia.

Quando somos obrigados a esperar no meio de um congestionamento, por exemplo, o instinto e fazer algo que nos distraia do desconforto da espera. Ligamos o radio, telefonamos ou enviamos uma mensagem de texto para alguém, ou simplesmente ficamos praguejando de irritação. Praticar atenção plena durante uma espera ajuda a descobrir esses vários pequenos momentos do dia em que podemos puxar o fio da consciência de dentro do esconderijo onde ele fica, no complexo tecido da nossa vida.

A ação de esperar, algo corriqueiro que geralmente produz emoções negativas, pode ser transformada numa dádiva: a dádiva do tempinho inesperado para a prática. A mente ganha um duplo beneficio com isso: primeiro, abandona estados mentais negativos; segundo, recebe o efeito salutar de mais alguns minutos de prática entremeados ao longo do dia.

Meu primeiro professor de prática da espera” foi meu pai, homem super paciente. Aos domingos de manhã, ele vestia temo e gravata, entrava no carro e ficava lendo o jornal. Enquanto isso, sua esposa e as três filhas entravam no carro, uma por uma, saiam de novo, fazendo várias viagens de ida e volta para pegar luvas, carteira, batom, um par de meias sem furos, presilhas, os livros da escola dominical, e assim por diante. Só depois que a correria e a bateção de portas cessava e que meu pai erguia os olhos, dobrava o jornal calmamente e dava partida no carro.

Ao praticar esse exercício, rapidamente você aprende a identificar as mudanças do corpo que acompanham a iminência de pensamentos e emoções negativas, como a impaciência por ter que esperar ou a raiva do “idiota” que está na sua frente na fila do caixa.

Sempre que conseguimos parar e impedir o inicio da ação de um estado mental negativo (digamos, ficar irritado com o trânsito ou cheio de raiva do caixa vagaroso), estamos apagando um padrão habitual e insalubre do coração / mente. Aquele estado habitual de irritação e frustração com “ter que esperar”, ou com qualquer outra coisa, acabara se dissipando. Leva tempo, mas funciona. E vale a pena, porque ao nosso redor todos se beneficiam.

Muita gente tem uma mentalidade que mede a autoestima em termos de produtividade. Se hoje não produzi nada, não escrevi um livro, dei uma palestra, fiz pão, ganhei dinheiro, vendi algo, comprei algo, tirei nota boa na prova ou encontrei a minha alma gêmea, então meu dia foi um desperdício e eu sou um fracasso. Não valorizamos o tempo que despendemos “sendo” ou “estando” presentes. “Esperar” é, portanto, uma fonte de frustração. Imagine quantas coisas eu poderia ter feito!

Não fique aborrecido quando tiver que esperar; alegre-se com esse tempinho extra e exercite manter-se no momento presente.

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